A construtora Moura Dubeux (MD) estreou nesta quinta-feira (13) na Bolsa (B3), sob o código MDNE3, num dia de baixa para o mercado, mas marcante para o Nordeste. A empresa pernambucana se tornou a primeira incorporadora de atuação regional a negociar ações na Bolsa no segmento Novo Mercado. “Essa conquista mostra o DNA de superação do povo nordestino”, disse o CEO da MD, Diego Villar, no discurso de estreia, na manhã desta quinta.
Empresas listadas no Novo Mercado se comprometem voluntariamente a adotar práticas de governança corporativa, além daquelas exigidas por lei. A Moura Dubeux foi fundada em 1983 pelos irmãos Marcos, Aluísio e Gustavo Dubeux e, desde 2007, tentava captar recursos de terceiros junto à Bolsa, mas terminou adiando o projeto por causa da crise econômica da última década.
Com a abertura de capital, a companhia movimentou R$ 1,25 bilhão, captando mais do que o previsto pelos acionistas e atingindo uma precificação de R$ 19 por ação, que havia sido estimada pelos coordenadores da operação entre R$ 17 e R$ 21. Foram coordenadores da oferta os bancos Itaú BBA, Bradesco BBI, Credit Suisse, BB Investimentos e Caixa Econômica Federal.
Na estreia, as ações da MD fecharam em baixa de 2,3%, a R$ 18,50, num dia em que o Ibovespa, principal índice da B3 fechou em queda de 0,87%, a 115.662,40 pontos. Outras empresas do mercado imobiliário também fecharam em baixa, a exemplo da Cyrela (0,15%) e Rossi (0,19%).
Na semana passada, a construtora Mitre, de São Paulo, também abriu seu capital alcançando o topo da faixa e ainda conseguiu operar em alta no primeiro dia de operações na Bolsa. Nesta quinta, no entanto, a companhia também seguiu a tendência do mercado e fechou em queda de 2,78%.
Moura Dubeux e o Nordeste
O JC apurou que a diferença entre as duas performances iniciais tem a ver com o desconhecimento do Nordeste pelos investidores de Bolsa e que a MD sofreu um desconto por ser a primeira companhia do setor imobiliário da Região a abrir capital. O desafio da empresa agora será mostrar capacidade de gerar produtos de qualidade e mostrar bons resultados.
A injeção de recursos na empresa vem numa hora crucial para a companhia, que em setembro do ano passado demonstrava uma baixa capacidade de honrar com seus compromissos, apresentando uma dívida de líquida de R$ 1,12 bilhão, montante 14 vezes maior que o seu lucro antes de juros e imposto de renda (Ebit), de R$ 76,9 milhões até setembro de 2019.
Com a captação, o plano da Moura Dubeux é abater a dívida e passar a investir em aquisições de terrenos e novos negócios para se firmar na liderança na Região. No Nordeste, a MD possui um variado portfólio de empreendimentos, que vão de imóveis econômicos até hotéis e unidades de alto padrão, localizados em Pernambuco, Alagoas, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte.
Com o caixa reforçado, a MD vai pagar menos juros de sua dívida, considerada cara, e passar a ter mais fôlego para encarar novos investimentos numa posição mais confortável e dentro de um ambiente de juros baixos para o consumidor de imóveis e de recuperação da economia e do próprio mercado imobiliário. Há um outro fator positivo para a empresa: a concorrência menos acirrada do mercado nordestino.
No processo de 10 meses em que levou para abrir o capital, o grupo pernambucano contratou pesquisas para dimensionar o tamanho do mercado do Nordeste para imóveis de médio e alto padrão. Nos quatro anos de crise, várias empresas de outras regiões que haviam chegado na Região para aproveitar o boom, terminaram saindo do mercado. Foi o caso da Cyrela, Rossi e outras da própria região hoje amargam processo de recuperação, como a Odebrecht.
Apesar de o mercado imobiliário do Nordeste ainda não ter engatado uma recuperação vista em São Paulo, por exemplo, a saída de grandes competidores deixou o caminho livre para a Moura Dubeux conseguir se firmar como a principal companhia de engenharia imobiliária da região.
A empresa não comentou as informações da oferta por estar em período de silêncio.
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